sábado, 30 de julho de 2011

Estado sólido e potência de verdade.

Fui convidado para fazer 3 projetos para uma empresa fabricante de amplificadores de estado sólido e caixas acústicas de sistemas PA.
Como nunca havia lidado com este público/mercado, à princípio relutei em abandonar (momentaneamente, que seja) meu envolvimento 24h/dia com as válvulas.
Dada a necessidade premente da empresa em colocar um produto "reliable" no mercado, topei a tarefa e coloquei as mãos à obra.
Corrigi os projetos que estavam em produção antes de dar início aos novos projetos (um sub ativo de 300w, um módulo de potência para PA de 300w e uma caixa amplificada para retorno de palco).
Durante as correções, notei que as fontes de alimentação dos produtos (e de TODOS da concorrência) não fechavam a conta...
Potência elétrica é igual ao produto da corrente na carga multiplicada pela tensão sobre esta mesma carga. Simples assim.
Tirei a poeira dos meus voltímetros AC e fui medir tudo que tive acesso nestes dois meses.
Fui em várias lojas e abri vários equipamentos da concorrência.

Em que Universo vivemos?

Só pode ser num universo paralelo onde as leis da física não se aplicam!
Os fabricantes têm a cara-de-pau de colocar etiquetas de 200w em equipamentos que entregam, suando em bicas, meros 65w @ 1kHz e com THD de uns 15%!!!

Finalizei um protótipo de 150w (de verdade com BW de 30Hz ~40kHz, THD 0,1% mais limiter e proteção DC) e entreguei ao meu parceiro, dono do negócio.
Levamos á campo e fizemos vários "blind-tests": ligávamos o ampli na calçada e pedíamos para os "entendidos de platão" falarem quanto eles achavam que tinha de potência saindo dos falantes.
Tivemos palpites de todos os tamanhos, mas a absoluta maioria situou o ampli na faixa de 300 a 600w!!!

Diante da distorção generalizada entre o meio artístico consumidor de sistemas de PA, sugeri duas alternativas ao meu parceiro-cliente:

1) Você pode mentir, na cara-dura, como fazem todos os outros fabricantes, colando uma etiqueta de 400w no ampli de 150 ou;
2) Me pagar pra fazer outro projeto de 70w e colocar uma etiqueta de 150W!

Em qualquer dos casos, a mentira é a única solução de contorno para este problema que se instaurou no Brasil há décadas, onde ninguém mais sabe o que é rms, ou PMPO (sic), ou potência musical (???) e por aí a fora...

E você, caro leitor?!

Compra equipamento pela etiqueta colada ou pelo que ouve e cabe no seu bolso?

Pense à respeito na próxima vez que for adquirir um ampli.


http://www.amplificadores.com.br/