terça-feira, 28 de julho de 2009

Audiofilia ou Audiofrenia?

Esta semana, um cliente me perguntou quais eram os circuitos integrados que uso em um dos meus produtos. Já sabendo para onde a conversa iria enveredar, falei com todas as letras, inclusive revelando alguns "segredos industriais" que me custaram muitas e muitas horas de sono perdido, cobranças da família e lazer deixado de lado em nome da paixão pelo áudio (e pela recompensa financeira de se transformar uma paixão em negócio).
Notei no mesmo instante que meu cliente torcia o nariz do outro lado da linha...Pude até ouvir ele pensando "...mas este CI, que foi projetado para auto-rádios feitos na China..."

Confesso que fiquei um pouco triste pela reação dele, não pelo cliente em si, mas porque há alguns anos atrás, talvez eu tivesse a mesma reação.

Quando nos fechamos para o novo, nossos horizontes se estreitam, a vida fica pequena, nosso mundo de possibilidades diminui. Aprendi isto a duras penas, acreditem.

Trazendo o que foi dito acima para o nosso mundo do áudio, vale lembrar algumas coisas:
1) Som ao vivo é o som de verdade. Por pior ou por melhor que seja, somente assim podemos dizer que estamos ouvindo algo 100% livre de qualquer manipulação.
2) Seja analógico ou digital, o som no momento da sua captação já começa a ser modificado. Pelo microfone, pela decisão do técnico do estúdio de onde ficarão os mics, pelo próprio circuito dos mics, pela forma como será gravado o master, quantos bits de sample-rate e por aí vai.
3) Depois tem a pré-produção onde um monte de gente dá palpites: aumenta isto, diminui isto, limpa aquilo outo. Produção: tudo de novo. Pós-produção: mais uma vez...
4) Prensagem: qualdade da mídia, correções de última hora para acertar deficiências de processo, qualidade dos fornecedores da mídia, etc.

Chegando em casa com o disco novo:
5) Qual a aparelhagem que seu bolso pôde comprar? US$60.000,00 num ONGAKU? EUR90.000,00 num par de caixas MIDGARD (o técnico vem da Dinamarca fazer a instalação)?
6) Tamanho das caixas, tamanho e topologia da sala, móveis, tapetes, mobília, cortinas, quantas pessoas ouvindo, posição do ouvinte em relação às caixas, etc
7) Sua capacidade auditiva (se usou muito walkman na década de 80 e 90, pule esta parte...infelizmente). Se não larga seu i-POD hoje em dia, sinto informá-lo que o tempo cobrará os excesssos...
8) Equalização voluntária ou involuntária (devido á topologia dos circuitos do seu equipamento, idade dos mesmos, temperatura ambiente, umidade - todos fatores que alteram a propagação do som no ar).
9) E muito, mas, muito mais mesmo.

Resumindo:
"Ouça, avalie o que ouviu, independente de conceitos pré-concebidos (= preconceitos). Não dê ouvidos aos gurus (provavelmente já perderam parte da audição em função da idade). Tenha em mente que uma experiência auditiva é infinitamente maior do que ouvir uma sequência de senóides envelopadas por um ADSR (atack, decay, sustain, release), envolve todas as suas capacidades sensoriais e toda a sua bagagem emocional. Mergulhe de cabeça na experiência. Apague a mente e curta o que realmente te dá prazer. Ouça!"

Grande abraço a todos e divirtam-se!













2 comentários:

  1. Ah! Estava me esquecendo...vocês sabem que um transdutor sonoro (alto-falante, headphone, etc)possui uma curva de resposta que nunca é a mesma para o mesmo produto (meu K601 é diferente de um K601 produzido no mesmo lote)e que esta resposta varia em função da freqüência reproduzida em amplitude e fase? Têm idéia de qual é a eficiência destes transdutores? Sabem quais as distorções induzidas pelos sistemas mecânicos de pivôs, mancais, suspensões, viscosidade dos materiais etc?
    Por tudo isto e mais um pouco eu digo:
    "Ouça. Se gostar do que ouviu, então está valendo!"

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  2. É exatamente este o ponto. Outro dia, durante minha aula de música, conversava com meu professor sobre regras musicais, escalas, modos, etc. Depois de tudo isso, ele me disse que é possível quebrar todas essas regras que no final das contas, a máxima é: "Se soa bem, que mal tem". Acredito totalmente nisso afinal, de que adianta a montagem de um amplificador com capacitores de folha de prata, fios de prata e todas essas excentricidades se ao lado da sala de audição, tem uma linha de onibus passando na janela ou se naquele momento sua audição nao esta 100%(nunca esta) pois foi para uma festa no dia anterior.
    No final da história, o importante é que voce esteja satisfeito com o que tem e não tome por base "regras" impostas por ditos gurus.

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