quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Gurus de plantão

Meus caros amigos,
Durante muitos anos levei uma vida "corporativa". Trabalhei em grandes empresas multinacionais (Bosch, Pirelli, Philips, entre outras). Quanto maior a empresa, menos problemas certos indivíduos conseguem causar, bagunçando (de forma consciente ou mesmo inconsciente) os processos estabelecidos.
Quanto mais antiga, e quanto maior o número de guerras e conflitos esta companhia atravessou, mais sólida é sua estrutura. Mais resiliente ela se torna.
Porém existe uma raça extremamente perniciosa de indivíduos que conseguem abalar estruturas de empresas tão sólidas quanto às que eu já citei:
São os Gurus de Plantão.

Não sei definir muito bem qual é o fenômeno, mas uma coisa é fato, eles têm a capacidade de enebriar seus seguidores e ouvintes de forma a incutir suas idéias numa legião de adoradores-seguidores culminando numa total ausência de opinião-própria em seu séquito.
Convertem todos eles em zumbis, ou melhor, mariposas bailando em volta do lampião até que acabem queimadas, proporcionando um espetáculo pirotécnico que o tal guru geralmente assiste de camarote...

Em qualquer ramo da atividade humana, seja no mundo corporativo ou no mundo do áudio, o bom-senso vale mais do que as mil palavras de um guru.
Por este motivo aprecio tanto os textos e o posicionamento do sr Bruce Rozenblit.

Abaixo algumas considerações que sempre comento com meus clientes regulares ou através de consultas de e-mail:
  • Ciência é ciência. Não existe nada esotérico o suficiente que não possa ser mensurado, medido, virado do avesso e que não obedeça às mesmas leis da física seja aqui na Terra ou em algum planeta de Andrômeda. Parafraseando o Prof. Dr. Carl Sagan: é como a navalha de Occam...é muito mais digno assumir logo que os dragões não existem do que justificar por mil e um dogmas a sua existência. A natureza sempre percorre os caminhos mais simples...agrade-nos ou não...
  • Quando usam algum termo que vc não conheça, questione. Estude. Vá atrás. Não se fie em idéias e relatos de quem não estudou o assunto à fundo e não possui respaldo científico algum. Robert Millikan nunca foi um cientista genial ou extraordinário, muito menos um visionário do porte de um Maxwell, de um Dirac ou mesmo do Einstein, todos contemporâneos seus; mas uma coisa era fato: se o Millikan houvesse testado, com certeza estaria comprovado! Ele era assim: um ponto de interrogação ambulante que comprovou várias teorias que os próprios cientistas-idealizadores não tinham a menor idéia de como comprovar o que haviam escrito...
  • O bom-senso sempre nos dá uma boa medida de onde colocar nossas fichas.
  • 100 vezes mais caro não significa 100 vezes melhor. E vice-versa.
  • Aos 7 anos de idade nossos ouvidos são mais que perfeitos, porém não gostamos de Jazz e Beethoven é só o cachorro do filme da Disney. Aos 14 eles ainda são perfeitos, mas começamos a estragá-los com rock e fones-de-ouvido (combinação perigosa!). Aos 21 estão razoavelmente bem, mas passamos noites em claro atrás de uma mulher bonita enchendo os tímpanos com múisca alta até de madrugada. Aos 28 começamos a gostar de boa música, mas não conseguimos mais ouvir muito bem...Aos 35, sabemos exatamente o que é música boa, mas já estamos surdos! Essa é a vida.
  • 5Hz ~ 100kHz é pra golfinho, baleia, elefante e morcego. Ouça o que vc tem à mão, se te proporcionou prazer, então desfrute. Caso contrário, procure algo dentro da sua realidade para que possa lhe proporcionar prazer. Ponto.
  • A psicoacústica explica que nosso cérebro consegue preencher os vazios de um programa que ouvimos. Quanto mais experiências emocionais ligadas à musica tivermos na nossa juventude, melhor será o que ouviremos quando formos velhos e surdos!
  • U=R*I. Todo o resto vem daí!
  • Potência é a capacidade de algo produzir calor. Um equipamento de 1100 watts ligado em 110V TEM que ter um fusível de no mínimo 10A. Se a conta não bate, desconfie.
  • O rendimento de um alto-falante varia de 0,5 a 4%, ou seja, para cada 100w entregues pelo amplificador, de 99,5 a 96w são transformados em calor pela bobina, o resto é som.
  • A bobina de um falante é feita de cobre. Cobre comum com um monte de oxigênio e impurezas. Pra que usar um cabo de US$2.000,00/m se antes do cabo temos um transformador com 200m de cobre comum e depois do cabo um alto-falante com outro tanto do mesmo cobre comum?
  • Conector de ouro seria necessário se morássemos em Vênus ou Mercúrio. Aqui na Terra o bom e velho cobre-níquel dão conta do recado, e muito bem! A força utilizada para apertar os conectores é mais que suficiente para expor o metal vivo nas conexões, caso estejam oxidadas.
  • O mesmo vale para chaves, relés e soquetes. O simples movimentar de contatos ou inserção das válvulas já é mais que suficiente para expor o metal do contato.
  • Números são ótimos para fazer planilhas e controlar o orçamento. Em se tratando de música, prefira ouvir a ler. Ouça sem preconceitos, se gostar do que ouviu valeu a pena. Se não gostar, sinta-se livre para seguir seu caminho à procura do som perfeito. Mas use os SEUS ouvidos, não os ouvidos de outro!
  • Quando vejo alguma página de review de equipamento em alguma revista, olho só se a foto foi bem feita ou mal feita. Daí já dá pra ter uma idéia se o dono da marca analisada pagou ou não pro seu produto sair bem pontuado pelo crítico...
  • Já pensou numa mulher com a voz da Joss Stone e a cara da Aracy de Almeida, ou mesmo a Susan Boyle...não dá, né?! O equipamento tem que agradar aos olhos e ouvidos. Pesto é outro exemplo. Mande uma criança fechar os olhos e comer pesto. Beleza. Agora mande a mesma criança comer pesto olhando a cor e a textura do mesmo...já sabe a resposta, né?! A experiência sensorial deve ser completa.
  • É impossível agradar a Gregos e Troianos, por esta razão, os equipamentos que fabrico são retornáveis. Não gostou do que recebeu, mande de volta que seu investimento volta pro seu bolso. Por esta razão sempre insisto aos meus futuros clientes que, quando possível, levem um equipamento de testes para casa e experimentem.
Basicamente é isto.
Experimentem e troquem experiências, porém policiem-se para não se tornarem os Gurus-de Plantão...
Quando isto acontece, o conhecimento e a curiosidade perecem, arrastando todo e qualquer avanço tecnológico pro fundo do poço.
Se o Padre Landell de Moura tivesse dado ouvidos ao Bispo, ele não teria inventado o rádio 10 anos antes do Marconi, que acabou levando a fama...
Inovar e reescrever a forma de fazer as coisas é para poucos, mas garanto que as experiências aprendidas pelo caminho são redentoras! Tente. Inove e compartilhe!

http://www.amplificadores.com.br/

Grande abraço a todos.


"Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem"

Um comentário:

  1. Obrigado pelos princípios Luciano. Princípios que o amante da boa música deveriam sempre considerar. Sempre desconfiei de cabos. Mas obtive resultados perceptíveis utilizando cabos que confeccionei, conhecidos vulgarmente por arataca. Não acho que cabos sejam irrelevantes mas penso que haja uma exploração de suas possibilidades que leva em conta fatores mais esotéricos do que científicos. Aliás, se levassem em conta fatores científicos, portanto mensuráveis, dificilmente seu preço se justificaria. Acredito que cobrem tanto por terem chegado a uma fórmula que produz um resultado satisfatório e que por isso é mantida em segredo. Nada que a curiosidade científica não lhe permita alcançar gastando até 100 vezes menos. O restante da perfumaria é só pra justificar o preço. Abraços.

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